XXVIII. Silêncio

Vinha no jornal
Que hoje tinhas pássaros
No corpo que habitas.
Dizia, em letras maiúsculas,
Bem negras e gritantes,
Tão como os teus olhos,
Que da tua alma cheia
Transbordavam asas
E chilreios de épocas
Tão infantis quanto nós.

Vinha hoje no jornal
Que os teus lábios cerravam
O que a tua alma não.
As letras mais pequenas,
Enganadoramente sussurrantes,
Diziam que a vida de cão
Se mantém.
Fala-se de que perdeste o comboio,
Não tens guarda-chuva
E, em silêncio,
Precisas de alguém.

2 comentários:

Jéssica Cardoso disse...

Queria dizer muita coisa, depois de ler isto só: obrigada. Obrigada por me fazeres chorar.

Jessica disse...

Oh Alice, como te pertence a virtude das palavras. Este bocadinho de ti grita-me tanto quanto as maiúsculas negras do jornal, enquanto me sussurra que o amor é isto mesmo.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.