Formavam-se, nas nuvens, dois arco-íris. Mas era preciso deixar de
ver o mundo para se ver o céu. E assim fiz. Pousei no chão enlameado os
figos amadurecidos que carregava no colo e sentei-me, ali mesmo, na pedra molhada
do degrau que dava para a cozinha velha.
Olhei-os, escondendo a cegueira no fundo do baú, na prateleira
mais alta de todas, onde os meus cinco pés e meio não a alcançariam. Depois
fechei as pálpebras, para ver melhor. Frugalmente, e sem grandes floreados, a
chuva beliscava-me a face quente. O sol morno de poente adocicava-me as
pálpebras finas, quase transparentes, recordando-me de braços mornos,
decadentes.
Para mim, o amor era, sempre fora, só isso: um pôr-do-sol morno,
decadente.
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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.