Eu
conseguia imaginar-me a esbarrar todos os dias contra a tua pupila, mesmo
naqueles dias em que as grades do metro esfumaçam a passagem das pessoas pelo
tempo.
E
a passagem do tempo pelas pessoas.
Eu
conseguia imaginar-me a ir, em direcção àqueles ventos solares que tanto me
atraem, porque não passam de prolongamentos de ti, e do emaranhado que são os
teus pensamentos.
E
da metáfora que os teus caracóis ruivos são.
E
eu via-me nesses movimentos aleatórios, aos saltos, pela avenida abaixo, a
correr, como um louco, com um sorriso na cara, à tua procura, naquela nossa
cidade que fizeste tão tua, sem que te apercebesses.
Eu
sabia que deverias andar por ali. As ruas cheiravam a ti, e a estação também e
na torre da Sé, o relógio marcava a tua hora. Eram três horas da tarde e o ponteiro
mais comprido marcava os catorze minutos e era a tua hora e eu esperava-te a
qualquer segundo, a virar uma esquina, de botas pretas e livro na mão.
Então
eu vi-te! De repente, e como quem não quer a coisa, lá estavas tu, caramba! E corri!, não fosses fugir-me outra vez, rapariga. E eras ligeira e de nariz
empinado. E então, lá corri. Estavas a chegar à estatueta do ardina e eu quase
pensei que gostava de te mandar um postal com uma fotografia do céu daquela tarde, e da magnólia que estava coberta de flores brancas. Estava tão bonita, e tu também estavas muito bonita... e lá passaste, com os teus óculos redondos, de haste dourada e eu vi as flores reflectidas nas
lentes escuras.
Estava tão perto de ti e de te alcançar, quase toquei no teu blusão de ganga e…
Estava tão perto de ti e de te alcançar, quase toquei no teu blusão de ganga e…
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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.