Apanhou o cabelo, descontraidamente, ciente de que, não tardaria, iria
soltar-se. As pontas onduladas que lhe pendiam sobre a testa colavam-se à face
húmida.
Sentou-se na beira da cama e suspirou. Talvez por ter voltado a dar-se
ao pecado de cair novamente no precipício que era a luxúria dele.
Estava nua e sentia o seu hálito a gin
sobre a sua pele; tinha os dedos fantasmagóricos, ainda lodosos, da queda. Ainda
sentia o seu arfar no pescoço arrepiado e a força com que a imobilizava, como
um ser possuído, doente. Sentia a forma como lhe tocava, docemente e, contra o relógio, deambulava sobre o seu corpo, conhecendo as montanhas e os vales da sua pele.
Fechou os olhos e viu-o, para além das cortinas, a suspirar também,
como um sol de Março, quente, promissor, a pedir perdão e a renascer, como uma fénix.
Abriu os olhos e voltou-se. Lá estava ele, sobre as ondas daquele amor
louco e impaciente, do outro lado da cama. De olhos fechados, a tremer. Ele era
o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim; um vulcão e uma nuvem; fúria e paz. Ele fazia o tempo
e parava-o dentro dela, a seu belo capricho.
Mas, no fundo, eram só aves alienadas… entre suspiros e conversas de
café. Eram só um sonho dela.