VIII. Sumariar

Folheei o livro de capa acinzentada, dobrada nas pontas, com manchas de chá nas laterais. Cheirava a chá velho.
As palavras mofosas sublinhadas pelas mãos por onde já andara não faziam qualquer sentido para alguém tão apressado quanto eu, com o sangue tão fervente.
Do outro lado do café, o teu corpo quebrara, de chávena vazia, inverno próximo. Existias na melhor das estações, dormente de tudo o que brotou noutrora. Tudo em ti era mudança, não tivesses nascido tu numa fase de transição de luz entre os corpos celestes.
Olhavas-me, mas não me vias. Tampouco reparavas em mim e no café que soprava, sem despossar os olhos dos teus.
Voltei a folhear o livro, desassossegadamente. Atentei, como que um quase-acaso, numa frase: não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.
Como pode alguém resumir tanto um amor que só existira, de novo, cem anos depois? 

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.