Asfixio-me na tua espuma e numa nebulosa de
sal e em cristais me deito.
Perco a noção dos sentidos e, ridícula
criança!, sussurro mundos de mel.
Com as pálpebras fechadas, vou percorrendo
cada grão de infinito teu. Ainda há pouco me chamaste, de olhos negros e marejados
de pérolas de sangue, e banhaste-me de mãos incógnitas com sabor a um sol
áspero e seco e a teus lábios que são meus. E já não o são.
A tua ira acaricia o meu corpo desnudo na
areia e, entre rasgões escarlates, prende-me (não sei se o corpo, se a alma) com espinhos de rosas.
Esta melodia que somos e me suga para o
cenário idílico que construí na mente psicótica que tenho, não passa de uma
trip de heroína. É tudo tão intocável e tudo dói. Tudo passa. Já é doença, já é dança, e não
orvalho.
Caminho pela floresta, em trilhos demarcados
pela passagem das chamas. Traçaste um desses, mesmo nas minhas pernas. Ainda me
custa olhar para eles e recordar que neles já correste, também.
A floresta aonde brilhas, meu doce e ferido Luar. Aonde os teus olhos ainda se refletem nas agulhas
dos pinheiros e as tuas mãos bailarinas ainda dançam ao sabor da tempestade e
dos anéis de fumo que fazes com o cigarro.
Queria eu ser um desses anéis.