XXIII. Ponto

Sentámo-nos na beira da ponte, a bamboar as pernas sobre o rio que nos fazia nostálgicos e soturnos, a mais de cento e setenta pés dos cadáveres que sepultámos nas areias movediças do tempo.
De pulmões partilhados e coração único, dividíamos o último cigarro. Era um daqueles dias cheios de luz, mas levemente brontesco. Um dia para andar de braços ao léu, óculos de sol e cabelo ao vento. Estávamos muito despenteados, com aquele aspecto grunge, descuidado, contra aquele mundo cruel em que decidimos nascer.
– Amo-te.
Comprimi os lábios, desnecessitada de sorrir. Era tão natural que me amasses quanto era natural que os pássaros cantassem no Morro. Não havia nada tão natural no universo, quanto o canto dos pássaros e o teu amor por mim.
Ou o meu amor por ti.

É nessa parte da vida; na fase em que as camélias florescem, que se sabe que não há um ponto de retorno. Já se está a adoecer. É a poesia a doença.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.