«He once was a true love of mine»


Sou do tipo de pessoa que não consegue adormecer se a almofada não for confortável, se os pensamentos forem muito pesados e se o vento uivar.
Já tu és precisamente o oposto: usas duas almofadas e assemelhas-te, no teu respirar ligeiramente sibilante, a um vulcão adormecido, numa ilha grega, perdida no nosso mar.
Eu gosto de dormir despida; despida de amarras e urze; nua; leve e frescamente, mesmo no nosso inverno. E tu usas meias de lã entrançada, com borbotos e, ora rompidas nos calcanhares, ora nas pontas dos dedos. Mesmo na estação seca.
Tu sabes que eu gosto de tapar a cara com o cobertor… e tu dormes na outra ponta da cama, porque os meus braços são sempre demasiado quentes.
E eu… eu desperto na madrugada, só para dedilhar na tua barba rija, já de homem feito. E tu… tu deixas-me adormecer e desprendes-me do teu corpo. Tenho calor, justificas-te novamente. Sempre me assemelho a uma roseira e tu a minha fonte de vida.

Mas sou eu quem ainda te sonha na cama. Sou eu quem ainda espera por ti, que perdes horas a descalçar-te do dia.
Sou eu quem, consciente de que já não vens, se afoga na tua almofada e no teu perfume leve de suor, limão e mel.
Sou eu quem chora. Sou sempre eu. 

1 comentário:

Jéssica Cardoso disse...

há quem tenha sido feita para naufragar. há quem tenha sido feito para chorar, dentro e fora da mente exaustiva. e depois, há o amor.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.