Ópio, absinto, mentiras, dissabores.


A essência da descontração está na cinza do cigarro que agora esvoaça sobre a terra batida. Tento olhar para o relógio da estação, sem querer pensar nas horas que faltam para me perder em ti. E faltam tantas.
E, num vaivém de olhares desassossegados e constrangidos, eis que te capto em mim; preso a mim. Outra vez.
Bem, talvez seja esta a primeira. Ambos sabemos que nunca aconteceu, mas gosto de pensar que sim. E é esse o meu maior tesouro! Cativar-te no vácuo da minha existência.
Ópio, absinto, mentiras, dissabores.
Silhuetas hiperbólicas de coisa nenhuma reflectidas nas poças de água lamacenta. Se eu fosse uma criança… Ah, se eu fosse uma criança!, com toda a mestria do mundo; de quem ainda só sabe quanto são dois mais dois; saltaria nas poças, até ter as galochinhas amarelas empapadas, até que a gabardina azul petróleo adquirisse uma nova cor, até que fosse assim para sempre!
Eu pensava que seria assim para sempre! As borboletas chegariam sempre na primavera! E os escaravelhos da batata também! E o meu pior pesadelo seria calcar uma abelha, porque, efectivamente, dói!
Mas já não é assim. Agora existe uma complicação cismada que se embrenha nas sinestesias do paralelo e da quinta dimensão… e de coisa nenhuma. Nem sei o que é a existência.
Está na hora de te encarar. Não quero que me digas o que é isto. Não! Chega! Chega de ser assim e de viver no constante desatino de uma insegurança refugiada em conhecimentos pré adquiridos em livros ridículos de autoajuda. Não és nada dessas coisas! Nem eu. Mas temos de nos agarrar a algo, não é? Mas chega; quero viver tranquila, sem cuidar de que cor serão as minhas lágrimas amanhã. Espera… tu sabe-o. Eu não choro. Não chorava antes de ti. Não te culpes. Não te vanglories.
– Senta-te aqui.
– Não. Nem devias ver-me.
– Estás à minha espera.
– Estou. E ainda tens nove anos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Devo dizer que me revejo nesta tragédia pessoal.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.