Simone baloiçou-se floralmente sobre a
muralha fernandina. Choviam-lhe dos céus as graças do amor e pingava-lhe, sobre
a ponta do nariz, a felicidade.
Encharcado, vendo Simone sorrir, Bruno
arrumava da cara o cabelo fino, sacudido pela chuva. Ela tem uns pés tão pequenos e um
abraço tão grande que poderá abarcar o mundo, se quiser, pensou.
Contemplava a expressão feliz e
despreocupada de Simone, de cabelos soltos, ao vento e sorriso rasgado.
Era Maio e as cerejas teriam mesmo de ser
comidas à lareira. Nevava à serra e o frio estalava a sua face pálida, agora
corada.
Saberia ele que, da outra margem, era dono
de um coração? Um coração de menina. Fraco e precipitado. Tão puro e ingénuo.
Tão abnegado e de dores enormes.
Esse sim, esse coração continha o mundo.
2 comentários:
às vezes revejo-me tanto nas tuas palavras (e na alma empobrecida da pequena simone) que me apetece chorar.
Mas a Simone não me parece desafortunada... Tem o seu mundo, o Bruno, a contemplar-lhe a face, a dar-lhe um pouco de atenção. Quem sabe a apaixonar-se a cada segundo que passa.
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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.