Sal e lua, capicua...









Tu querias perceber os pássaros,
Voar como o Jardel sobre os centrais.
Saber por que dão seda os casulos.
Mas isso já eram sonhos a mais.

Não Me Mintas, by Rui Veloso
Não sei se morro, se danço.
Não sei se lua ou se cinzas das minhas letras.
Não te sei.

Bluebird


There's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
There's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

There's a bluebird in my heart that

wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
You want to screw up the
works?
You want to blow my book sales in
Europe?
There's a bluebird in my heart that

wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
Then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?


Charles Bukowski,
in The Last Night Of The Hearth Poems


Trago nos cabelos tecidas as tranças esquissas.
Nelas enjauladas, num vôo enjoativo, traço andorinhas.
As andorinhas que ferem, mas não matam...
Na minha atmosfera; neste vácuo estagnado, sem vento,
num silêncio gritante, branco, frio.
Ninguém chama por elas?

Do avesso...


É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.


Fernando Pessoa, in Poesias Inéditas

#8 | Tu não sabes grande coisa, e isso é um facto


I love you the first time, I love you the last time





He used to call me DN
That stood for Deadly Nightshade
Cause I was filled with poison
But blessed with beauty and rage
Jim told me that
He hit me and it felt like a kiss
Jim brought me back
Reminded me of when we were kids
This is ultraviolence
Ultraviolence
I can hear sirens, sirens
He hit me and it felt like a kiss
I can hear violins, violins
Give me all of that ultraviolence
He used to call me poison
Like I was poison ivy
I could have died right there
Cause he was right beside me
Jim raised me up
He hurt me but it felt like true love
Jim taught me that
Loving him was never enough
We can go back to New York
Loving you was really hard
We can go back to the struck
Heaven don't know who we are
Heaven is on Earth
I will do anything for you, babe
Blessed be this union
Crying tears of gold, like Adam and Eve
I love you the first time
I love you the last time
Yo soy la princesa, comprende mis white lines
Cause I'm your jazz singer
And you're my cult leader
I love you forever
I love you forever
Ultraviolence, by Lana del Rey
Escrevo, essencialmente, para não falar sozinha.
Para que a minha voz não se limite a ser um baque seco no escuro.
Para que as minhas palavras transbordem e não me afogue nelas.
Porque o tempo é um rio e nas suas pedras branqueadas repousam os meus pensamentos metálicos, agressivos, ácidos, esperando que a corrente os lave… Para longe…
Que os leve, aos sentimentos vagantes que me correm nas veias, aos desejos, à música…
Que a leve: à tentativa frustrada de amor; este amor, total, trágico e terno.
Este amor que mantenho dentro das chávenas de tília, nas longas conversas vigilantes; este que toca na tua pele e, secretamente, beija a tua face jovem, tão velha e contorcida. Escrevo para que me leias. É para ti que escrevo.

The poem that came from the bottom of the bottle


Hum... o doce cheiro da rejeição... 

E, com isto, vou dormir.


Quando o luar beija o parapeito da minha janela...

…São tantas as coisas que fluem.

São enfermos os pensamentos soltos que me assolam, já no conforto da cama. E as dores temporais são, ainda que efémeras, jardins murchos, que o vento bate nas janelas e revolve as luas, molhando-as e secando a sua essência.
E onde habitava, outrora, o auxílio, nascem ervas daninhas: abafam os amores-perfeitos, os bem-me-queres, os girassóis. Mas os sóis já morreram também.
E quando o luar beija o parapeito da minha janela, fere-o. Fere-o porque não lhe é permitido, pela lei purgatorial, que haja luz para os descomungados. Ou assim me foi ensinado.
Então, há que esquecer as memórias, refazer as contas e reescrever as linhas! Há que libertar o peito e a mente da miséria mundana, dar pão à alma e sossegar as pernas! Porque o tempo urge, com ou sem Purgatório.
E as coisas que me assolam os pensamentos, quando o luar beija o meu peito, são, na sua grande maioria, as tão fadadas dores inventadas e mal sentidas...

Mas resta uma flor no jardim, de caule fraco, pétalas raras: duas luas e dois estigmas: pra nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura!

Auto-retrato: a viajante sobre o mar de névoa

Nuvens escuras,
                    mar revolto,
                                        pinheiros bravos.
Uma tela digna de Friedrich.

E a solidão remexe no baú:

Sou inatamente propensa a afastar as pessoas.
Os meus alicerces são tão débeis e inexactos, que temo que sejam abalados.


The nitrogen in our DNA, the calcium in our teeth,
the iron in our blood, the carbon in our apple pies,
were made in the interiors of collapsing stars.
We are made of starstuff.

Carl Sagan, in Cosmos

Manhãs de mim, para ti

Acordamos na beira-rio, salpicados pelo sol matutino.
Atrás do barco de nuvem, esconde-se esse sol de serra, esse sol hibernado.
O mesmo sol que arde nos nossos peitos, o mesmo sol que é o candeeiro dos nossos dias mais obscuros.
Esse mesmo sol que brinca na espuma das margens onde nos deitamos. 
Esse mesmo sol... esse sol faz em nós arco-íris.

Primavera Sound 2014 | Setlists

Coisas que me enchem o peito:

Pixies







Fundi-me no fumo parco


As mulheres surreais de Katerina Plotnikova

Se é possível que os seres mágicos existam, Katerina Plotnikova capturou-os a todos na sua lente.
A fotógrafa russa utiliza modelos e animais selvagens para fazer a arte amanhecer.
E, como apreciadora de fotografia surreal, não poderia deixar de publicar o trabalho dela, ao qual me rendi.






Deverias viver em sal


Tão voraz quanto o ar que te inspiro,
é a minha vontade de provar a tua voz,
de correr a tua pele
e de perseguir todos os teus suspiros.

E, despindo-te da passagem inexorável do tempo,
sopro-te os cânticos dos anjos, das suas harpas;
faço-te o rei das coroas de flores,
e as tuas jóias serão então os meus beijos acerejados
e as minhas marés de prazer percorrerão cada gota do teu sangue.

Sou a tua bandeira, o teu hino e essa é a minha maior vitória.
Alimenta-me apenas as emoções do meu coração gélido, literal,
e sopra-me o teu reino: os canhões de aves marinhas,
os campos verdes, as pedras de lua.

Tão voraz quanto o ar que te expiro,
é a minha vontade de que me ames.

#6 | Tu não sabes grande coisa, e isso é um facto


Noites de maresia...


Até onde a vista alcançar, os meus olhos serão do tamanho do universo.
Depois do horizonte, tomará o infinito o meu espírito.

Posso ficar aqui? Eu durmo no chão.


Permite-me apenas que viva do teu amanhecer, ao teu pôr-do-sol.
Deixa-me curar cada ferida tua, deixa-me regar as plantas e cuidar do peixinho no aquário.
Sabias que só retém as memórias por três segundos? Por isso, de três em três compassos, descobrirá que te amo.
O coraçãozinho do pobre bicho não entenderá o que isso é. O meu também ainda não decifrou bem em que aurícula te guarda, mas que cá estás, estás.
E enquanto te guardo no peito, pinto as paredes. O mesmo azul dos teus olhos, o mesmo ouro virgem dos teus cabelos. Uma cor nova, por inventar. E vê as cores que tenho na paleta! São tantas, meu querido, e são todas tuas.

#5 | Tu não sabes grande coisa, e isso é um facto


E, de lágrimas de mar, disse:

Corroem-me os remorsos e a saudade.
A Deus, Avó, a Deus.