Cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in Poemas
Há um dilema dentro de si. Está perdida. Mas não sabe o que quer encontrar.

...
Há músicas que vibram em nós como doces retornos ao cordão umbilical.
Há músicas que nos deixam com formigueiro nos pés, nas costas, na cabeça.
Há músicas que nos ligam à floresta: somos coelho branco ou ave de rapina. O eco de jovens virgens cintila por pinheiros e não há chuva nem maldade. É tudo tão puro, tão paradisíaco. Tão paralelo.
Ó Luz!
Ó Rosa!
Ó Duquesa da Noite! Vestes-te de Lua ao peito e deixas-me órfã do teu amor.
      Não era eu tua filha?


Prémio Dardos

É com imenso prazer que recebo o Prémio Dardos. O Chuck, do blogue Born To Die, foi querido (como sempre) e teve a amabilidade de me eleger.





  
Prémio Dardos é um prémio que homenageia o esforço, a dedicação e a criatividade para manter um blogue e agora que o Rainy Night foi seleccionado, tenho que nomear blogues que ainda não o tenham recebido. Estas são as minhas escolhas:


1. Incluir a imagem do prémio no blogue;
2. Citar e disponibilizar o link do blogue que os premiou;
3. Escolher blogues que ainda não tenham recebido o prémio e avisá-los.


 Se aceitarem o prémio, os autores destes blogues devem:

Ergue-se Dafne


Reza a lenda que ele era belíssimo, possante com o seu arco de prata. Altivo quanto o mar encrespado, conhecedor da sua força.
E por amor se quedou. De marés baixas e submissas aos encantos afogueados da ninfa de Peneu.
E, da flecha do querubim, voou a sua perdição: o Amor em Apolo e o Chumbo em Dafne.
A correria desmedida pela floresta do Olimpo. Um coração que se não deixa amar e a cegueira, provocada por uma paixão de cura e de peste, que o persegue, impondo a possessão carnal à maior pureza já vista por terras de titãs.
E, cada vez mais próximo, alcançando já os fios de oiro suplicantes, Apolo vê-se tão louco quanto apaixonado. E a sua demanda é, então, em vão.
Um corpo adormecido, a pele áspera. Os caracóis doirados transformados em finas joias de verde. Os braços, antes calorosos, onde se perderiam os jovens ardentes, transformam-se em galhos fortes, de cheiro intenso. Os seus pequenos pezinhos confundem-se com o solo escabroso e unem-se a Gaia. São raízes, agora.
Como rei destronado, Apolo cai aos pés da árvore, chorando o seu grande amor. Chorando os seus erros. Abraça-a e soluça por perdão, por Dafne.
Mas Dafne partiu e nada mais resta do que uma coroa de louro sobre a cabeça, que ferirá mais do que uma de espinhos sobre o peito.