IV. Rezar

Recostei o corpo à pedra gelada, salgada pelo mar. Fundi-me com as algas e fechei os olhos. Senti-me gelar, salgar; o meu mundo era um mar de ideias e a minha mente ribombava sobre as minhas pálpebras. As minhas mãos, agora exangues, juntavam-se, formando uma posição de prece. 
Procurei em mim a resposta, a calma ao mar bravo que rugia e doidamente sibilava dentro dos meus ouvidos. 
Eu não era pele, não era carne, nem ossos. Não havia sangue em mim. Toda a minha vida era feita de sal e erros alheios. E eu beijei aquele abismo em que me embalava.
Só rezava, por rezar. Sem acreditar. Ria, quando o fazia. Era inútil. É inútil... É inevitável... É fatal.
– Nada a fazer.
– Nada a fazer.

3 comentários:

Joana disse...

incríveis palavras

Diana Fonseca disse...

Talvez o nada seja o tudo.

disse...

Palavras fortes e bem colocadas. Parabéns.

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Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um...
L.C.