Cobria-lhe o
cabelo uma fina camada de gotículas de chuva, semelhantes a rubis – brilhavam,
dando-lhe um ar irreal.
Corria
apressadamente – tão apressadamente quanto os pezinhos mordazes lhe permitiam
–, na vaga tentativa de fugir da chuva, em direcção à estação, onde estava
previsto o comboio chegar, por volta das cinco da tarde.
Estava
atrasada – já passavam dez minutos da hora combinada
Aquela tarde
de outono – de céu emoldurado por dois arco-íris –, mais solarenga do que o
costume (e, ainda assim, abençoada pela chuva), dourara-se com o passar das
horas do relógio da torre da Sé. E ela esquecera-se completamente de que,
secretamente, teria de esperar a chegada do estrangeiro à estação. Por isso
correu, mesmo estando ciente de que não chegaria a tempo.
E, de facto,
não chegou – o comboio dera entrada na linha e partira entretanto.
Por isso
sentou-se – cansada –, fazendo sua companhia o único cigarro que lhe sobrava no
bolso.