Hoje aprendi que...

Toda a arte nasce da fusão, essa sim mágica, entre técnica perfeita e alma profunda.

entre conversas com o P. Chagas Freitas...

七文章、七点

Um dia, gostava de inventar uma teoria; uma daquelas teorias poeticamente ridículas. Tão ridícula quanto as já lidas por aí; mas sem que perdesse o seu “Q” de arte, e passasse a ser uma composição de meia-dúzia de notas soltas. Mas, mesmo assim, não seria mau, nem que fosse por uma vez, poder quebrar a armação de clave das ideias modernas; conjugar sustenidos e bemóis, onde tudo se quer consonante.
Compor uma teoria dessas, seja qual for o momento em que é feito, não é fácil; aliás, nunca é, para mim, rápida a decisão a tomar sobre o que escrever.
Acho que, se pudesse, escreveria algo sobre uma rapariga-elefante; algo que pudesse inventar com as cinco pautas da minha própria memória, que, não sendo de elefante, é a de uma rapariga que perdeu a memória da última vez que chegou à prateleira onde se guardam, em latas de biscoitos sortidos, as decisões.
Talvez eu própria seja a teoria de que preciso, por ser um misto de indecisões e de memórias feitas de tinta-da-china; uma teoria poeticamente absurda e descabida.
Da próxima vez que chegar à lata dos biscoitos sortidos, guardo lá esta ideia; talvez nunca mais lhe chegue, ora pois, e toda esta indecisão acabe por se perder nas brechas da memória que não se quis de marfim.

Hoje preciso dum «pois», preciso dum «sim»...


Não sei o que faça deste copo vazio e destas beatas. O tempo passa despercebido, sem me levantar o olhar e sei, cá dentro, dolentemente sei, que continuo a peneirar ar e vento, na vaga esperança de descobrir pedras preciosas presas por entre os dedos enlameados.
Hoje sinto-me assim: desamparada sobre as ondas de um mar revolto e gelado de outono. Sinto o iodo e a nortada que me estala na face. Ah! Como gosto destas noites em que prendo olhares alheios à minha figura alienada de cabelo ao vento.