Havia um homem louco.
Encostado à parede, à única parede das ruínas a que chamava casa, passava os
séculos aos gritos, múrmuros, trejeitos de dor, esgares de tormentas. Não
morava ninguém com ele. Não tinha vizinhos. No fundo, era um sem-abrigo.
Esmurrava a parede! Baques secos na atmosfera árida que o envolvia.
Puxava os cabelos – sentia o ardor do sangue sufocado debaixo da pele; o
vácuo dos dias que não lhe latejava no peito; o formigueiro de não-beijos na
língua; a cegueira provocada pelo ópio ermo.
Compulsivamente, baloiçava o seu corpo cadavérico, numa dança compassada. Dois
por quatro. Binário simples. Pesaroso…
E esse homem sem nome, vivia tão dentro de mim, na minha imensidão… que se
perdeu!
Vil consciência a minha.